Crise Política
Impedimento da continuidade do mandato de Dilma Rousseff
Poucos minutos tinham se passado após o anúncio do resultado de sua reeleição, quando Dilma Rousseff foi vaiada na Avenida Paulista por um grupo de partidários do candidato derrotado nas urnas, Aécio Neves (PSDB-MG). Eles não imaginavam o desfecho dessa história. Petistas que, no mesmo instante, comemoravam o terceiro mandato do Partido dos Trabalhadores, do outro lado da rua, tampouco. Seu antecessor e mentor, um ex-torneiro mecânico que havia se dirigido ao Congresso Nacional para seu primeiro discurso como presidente da República, em 2003, idem.
Na posse, enquanto opositores convocaram protestos e pediram a cassação da chapa Dilma - Temer, a presidenta garantiu continuar combatendo a corrupção. Eleito presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha prometeu independência ao governo. Na Petrobras, um escândalo afastou Maria das Graças Foster. De lá pra cá, políticos de vários partidos foram citados nas investigações, recebendo propinas de empresários e empreiteiras. A população saiu às ruas de verde e amarelo pelo fim da corrupção.
Um ano atrás, integrantes do Movimento Brasil Livre protocolaram na Câmara um pedido de impeachment contra Dilma. Políticos ícones do partido da presidenta foram presos em uma das maiores operações de investigação do país, a Lava-Jato. A crise se intensificou, o Tribunal de Contas decidiu analisar as tais "pedaladas fiscais". Cunha rompeu com o governo e foi denunciado pelo procurador-geral da República por envolvimento no esquema da Petrobras. O Brasil entrou em recessão técnica, e a popularidade do governo caiu para índices nunca vistos. O PIB tombou, a CPMF ressurgiu, e o TSE reabriu ação proposta por Aécio e seu PSDB.
Em outubro do ano passado, um novo pedido de impeachment, entregue por parlamentares da oposição, parou nas mãos de Cunha, que viraria réu no Conselho de Ética da Casa que presidia menos de quinze dias depois, por omitir contas bancárias na Suíça. O então senador Delcídio Amaral foi preso e jogou mais gasolina na fogueira. O PT votou pela continuidade do processo contra Cunha e, no mesmo dia, ele autorizou a abertura do impedimento recebido. O vice-presidente escreveu uma carta à Dilma, vazada por meio da imprensa, em que expunha a relação entre os dois. Ou a falta dela. Dizia ser um "vice-decorativo". As contas do governo apresentaram um rombo de mais de 100 bilhões de reais. Mais protestos, manchetes e capas alarmantes eram publicadas dentro do país e posições mais cautelosas fora dele.
"Bessias" viajou a São Paulo com um termo de posse. Em meio ao agravamento da crise, Lula foi nomeado ministro e foi impedido minutos depois. Vazaram mais grampos, ocorreram novas prisões e delações. Nesse ponto, já se somavam 12 pedidos de impedimento contra a presidenta. Surgiram mais aúdios, entre eles, o discurso da posse prematura do vice. Em homenagens à família, a Deus ou acusando o presidente da Casa de corrupto, o processo passou na Câmara e foi encaminhado ao Senado. Eduardo Cunha foi afastado. O presidente interino que ficou em seu lugar revogou a decisão da Casa, mas voltou atrás menos de 24 horas depois. O Senado seguiu o rito e, por 55 votos favoráveis, decidiu pelo afastamento de Dilma Rousseff, a primeira mulher nesse cargo no Brasil, por até 180 dias. Assumiu provisoriamente o "decorativo" Temer que, em seu primeiro dia após o aviso da troca de comando, deu posse a um ministério formado somente por homens. Todos brancos.
Em 31 do oito de 2016, Dilma Rousseff, até então a primeira mulher nesse cargo, assumido para um primeiro mandato eletivo no dia 1º de janeiro de 2011, deixa de ser Presidenta do Brasil. Foram 61 votos de senadores a favor e 20 contra o impedimento. Ela não perdeu o direito de exercer qualquer função pública.